terça-feira, 29 de setembro de 2009

Lutas pela plenitude democrática

Dois leitores comentaram o post Exorcizando a Maldade por ângulos diferentes, merecendo de minha ótica a preocupação em respondê-los à altura do tema posto em debate.



Maria do Carmo Valentino se manifestou assim:

Darci, tenho uma filha de 17 anos que nunca ouviu falar em detalhes de como foi mesmo a ditadura na vida dos jovens, nem bem sabe as razões da Guerrilha do Araguaia. Como sempre fui uma pessoa que viveu à margem dos assuntos políticos acho que nossos filhos e demais jovens deveriam ter mais interesse em conhecer o passado, nossa História, para poderem ajudar, quem sabe um dia formados, a construir um Brasil melhor do que o que estamos vivendo -apesar de reconhecer muitos avanços conquistados nos últimos dez anos, principalmente a partir do Governo Lula.
Achei interessante você escrever sobre essa busca aos corpos desaparecidos na Guerrilha do Araguaia. Fiz questão de chamar minha filha para fazer uma leitura no que você escreveu. Gostaria que sempre pudesse, nos brindasse com temas dessa natureza. Parabéns, estou virando leitora assídua de seu blog. Os políticos deveriam fazer isso, vir a público escrever coisas interessantes, debater em alto nível. Mais uma vez, parabéns.

Maria do Carmo Velentino
Parauapebas- Pará


Ernesto Silva Leite, com forte dose de ironia, contestou a comentarista e o poster:

Maria Valentino, realmente é importante relembrar fatos históricos, como bem dizes em teu comentário, elogiando o post do Darci sobre a busca dos corpos dos desaparecidos. Mas acho que nessa questão da busca de quem foi enterrado numa guerra declarada, o prefeito deveria ter citado também que o país fez as pazes com o passado, enterrando seus fantasmas, a partir do momento em que houve uma Lei da Anistia, inclusive, comemorada em 2009, a passagem de 30 anos de sua promulgação. A Lei de Anistia permitiu ao Brasil o retorno às suas tradições históricas. Em todas as situações de exceção, no final do ciclo houve uma anistia. Isso foi oportuno porque permitiu o reencontro dos brasileiros com o Brasil. Desenterrar essas coisas que já não dizem nada ao nosso futuro, é querer fazer demagogia com o passado.

Ernesto Silva Leite



Opinião do blog:
É preciso conhecer o passado para, no presente, jamais ceder à tentação de repeti-lo no futuro. Se hoje, o Brasil goza de relativa democracia, é graças a uma geração de jovens que deu a vida para enfrentar a ditadura e, movida à utopia, lutou heroicamente pelo fim da opressão e da injustiça patrocinadas pelos militares, a partir de 1964.

Isso precisa ficar bem claro, definitivamente.

É importante relembrar, rememorar, mas não comemorar a Lei da Anistia.

É preciso, sim, remeter os jovens ao passado, voltar àquele período porque envolve a violência do Estado, num momento da história em que ocorreram violações em massa de direitos humanos.

É preciso esclarecer, também definitivamente, que a Lei da Anistia não foi colocada nesses termos pela ditadura. Portanto, lembrar da anistia é lembrar, do terror do Estado, das torturas, desaparecimentos e assassinatos políticos.

Quando eu valorizo a questão do esforço que o governo Lula vem fazendo para tentar encontrar os corpos dos desaparecidos da Guerrilha do Araguaia é porque o legado das violações em massa não foi resolvido de maneira satisfatória pelos governos democráticos que sucederam o período ditatorial.

O fundamental para a juventude é entender que, sem o esforço daqueles que sofreram ou tombaram pelo retorno da democracia, hoje não poderíamos viver a plenitude de nossas liberdades.

A Anistia foi a maneira que os militares encontraram para deixar o poder preservando a sua imunidade em relação aos crimes do passado. E isso, assim como existe o Sol e a Lua, é preciso também que fique bem claro.

3 comentários:

Zé Dudu disse...

Tenho que dar o meu pitaco nesse assunto. Não sou contra que o governo autorize e ajude nas buscas de ossadas de "guerrilheiros da região do Bico do Papagaio".

Nunca concordei com a forma dura, assassina e censurada como o governo à época agia.

De criação católica, concordo que as famílias tenham o direito de enterrar seus mortos.

Segundo dados do SIAFI, coletados pelo site Contas Abertas, o governo federal pagou desde 2003, cerca de 2,6 bilhões de reais em pensões e indenizações somente aos anistiados políticos que sofreram algum tipo de perseguição durante o regime militar.

Esse valor é 66 vezes maior que o valor pago às famílias das pessoas que foram desaparecidas durante a ditadura, que gira em torno de R$125 mil por pessoa.

Foi institucionalizado a violência, desde que o atual governo pague valores absurdamente altos aos velhos amigos.

Deixo aqui uma pergunta: quanto pagaram às famílias de militares que perderam a vida cumprindo o dever às margens do Araguaia?

Quanto a família dos 4 seguranças mortos quando prestavam serviços nos bancos assaltados pelos "comunistas" receberam do atual governo ou de outro qualquer?

O fato que não pode ser negado é que isso está virando um grandioso comércio. Não estão atrás dos ossos, estão atrás de comprovação, subsidio para uma futura indenização milionária.

Houve um perdão. Foram todos anistiados e junto com a anistia teria que ter vindo o "sepultamento" de todos os desaparecidos com a ditadura.

Era preciso criar essa "bolsa ditadura"?

No Chile, onde a repressão foi mais violenta que no Brasil, os valores pagos não chegam à metade do que está sendo pago aqui.

Nem as famílias das vitimas do holocausto nazista receberam por lá, valores pagos aqui no Brasil. Mas, aqui é sempre uma farra com o dinheiro público. Onde entra o dinheiro do contribuinte tudo vira festa.

Desculpe se fugi um pouco do tema, sou, na grande maioria das vezes, tendenciosamente de direita e não acho correto pessoas receberem por terem praticado atos que sabiam que eram contra a lei da época.

A ditadura foi terível mal para a Nação, não podemos agora tentar consertar esse erro cometendo erros ainda mais graves.

É a minha opinião.

William Bayerl disse...

Salve Darci,

bom dia!!!

É sim interessante os debates sobre temas tão decisivos na História desse país, portanto ponto para vc.

Contudo parece que não aprendemos a lição como deveríamos. Como exemplo podemos citar a insistência de alguns políticos, principalmente dentro do PT, em forçar um terceiro mandato para Lula.

Qual sua opinião sobre essa situação? E mais,qual sua opinião sobre a reeleição da forma como se dá hoje?

Saudações,


William Bayerl

Darci Lermen disse...

Bom dia, William:

O Lula nunca apoiou o movimento de defesa do terceiro mandato, inclusive determinando a alguns aliados que defendiam a tese, que procurassem encerrar o assunto. Seria muito desgastante pra ele e para o próprio PT.
Particularmente, defendo um mandato de cinco anos sem reeleição.
Um abraço.

 
Pauta Cidadã - Assessoria Blog